sábado, 8 de abril de 2017

Conversa sobre leitura e escrita

Roberto de Queiroz

A expressão acima faz alusão ao assunto abordado em meu livro mais recente, cujo título é Leitura e escrita na escola: ensino e aprendizagem (edição revista e ampliada – editora Multifoco, 2016). Esse livro teve sua 1ª edição em 2013 e continha a penas dois capítulos. Recentemente, resolvi revisá-lo e ampliá-lo. Assim, nessa nova edição, fiz a revisão de alguns conceitos e referências, bem como o acréscimo de quatro novos capítulos. Agora, são seis no total.

O primeiro e o segundo capítulos reúnem questões teóricas, de fontes variadas, sobre os objetivos e funções da leitura, os níveis de conhecimento utilizados mediante o ato de ler e outras questões referentes à textualidade, necessárias para o desenvolvimento dos próximos tópicos. O terceiro e o quarto capítulos discorrem sobre o papel dos elementos de comunicação e das funções da linguagem no processo de recepção e produção de textos. O quinto capítulo aborda o discurso no texto ficcional escrito. O sexto e último capítulo trata de atividades de leitura e escrita realizadas no ensino fundamental e médio.

Prosseguido com essa conversa, compartilho com quem ainda não leu a obra em apreço a opinião de quem já a leu. No dizer de Iolita Campos (ex-professora de Linguística da FAMASUL-PE), “esta nova edição [...] traz para o leitor uma obra de suma importância para os estudiosos e usuários da língua materna enquanto instrumento de comunicação e interação. Com ênfase na leitura e produção de textos, o autor procura contribuir para a formação de leitores e escritores a partir da sala de aula, na relação professor/aluno, valorizando a bagagem cultural que o estudante possui e o constante estudo e reflexão que o educador pratica”.

Araken Guedes Barbosa (professor do Departamento de Letras da UFPE) afirma que “o leitor encontrará nesse trabalho uma gama variada de tópicos que incluem os objetivos e as funções da leitura, o conhecimento prévio do leitor e algumas sugestões pedagógicas que o autor oferece aos que se interessam pelo desenvolvimento dessas habilidades de recepção e produção tão importantes no processo educativo”.

Na opinião de Admmauro Gommes (professor do Departamento de Letras daFAMASUL-PE), no tangente ao ensino de leitura e escrita, a obra “aponta uma falha que distorce os encaminhamentos oriundos dos tantos encontros pedagógicos que acontecem no âmbito das formações continuadas nas redes públicas de ensino: um evidente afastamento entre a teoria e a prática”.

Para Nelly Carvalho (professora da Pós-Graduação em Letras da UFPE), não existe uma fórmula mágica nem única para ensinar a ler e escrever. “Cada professor deve buscar o caminho, de acordo com as características suas e da turma que leciona. É esse caminho que o professor Roberto de Queiroz [...] procura encontrar e construir com seu livro Leitura e escrita na escola: ensino e aprendizagem. [...] A sua leitura vale como uma forma de mostrar caminhos já trilhados para quem ainda não encontrou os seus”. 


(Texto publicado na Folha de Pernambuco,12/09/2016, Opinião, p. 7). 

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Lição 2 - Abel, exemplo de caráter que agrada a Deus

SUBSÍDIO PARA A ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.

2º Trimestre/2017 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Gênesis 4.8-16.

TEXTO ÁUREO: “Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e, por ela, depois de morto, ainda fala” (Hb 11.4).

INTRODUÇÃO
No capítulo 3 de Gênesis, o homem estava em perfeita comunhão com Deus, no capítulo 4 a raça humana já não tem comunhão com Deus, antes está completamente morta e tende para o mal. Este capítulo também revela como o pecado se espalhou na primeira família e então na sociedade. Verdadeiramente a depravação bem cedo floresceu e se espalhou. A oferta de Caim foi rejeitada porque ele mesmo não era justo diante de Deus. A Bíblia toda ensina que nada do que nós oferecemos a Deus é aceito se não estivermos corretos diante dEle [Gn 4.5, Hb 11.6; Is 1.10-15]. Caim se achou no direito te tirar a vida do próprio irmão por pura inveja. O pecado do capítulo 3 está tomando uma nova cara. Vemos em Caim inveja, cobiça, ódio, ira… Triste realidade: a violência cresce! Vemos claramente a violência crescendo a cada dia. A crueldade dos homens parece não ter fim. Primeira vítima da violência, Abel (hb Havel; "fôlego", "vapor", "exalação" ou simplesmente "nada". Algo considerado "perecível", um prenúncio de seu destino, morto ainda bem jovem. O escritor de Hebreus o classificou como "justo" (Hb 11.4), enquanto que do réprobo Caim é dito que era um filho “do diabo” (1Jo 3.10), porque “suas obras eram más” (v. 12). Caim era “abominável ao Senhor” (Pv 3.32; 11.20; 16.5), assim como tudo dele: suas “mãos” (6.16-17), seus “lábios mentirosos” (12.22), seus “pensamentos” (15.26), seu “sacrifício” e “caminho” (15.8-9).). Caim e Abel foram pessoas gratas a Deus, isso num tempo em que nenhuma lei prescrevia que devessem algum tipo de oferta, ou seja, ambos deram voluntariamente. Cada um deles ofertou conforme o fruto do seu trabalho. Contudo, Deus atenta somente para Abel, não pela qualidade de sua oferta, mas pela disposição do coração. Deus primeiro se agradou da pessoa de Abel, e então de sua oferta; o que mostra que ele não foi aceito por causa de sua oferta, mas por causa de seu caráter espiritual e digno. Aprendemos que as melhores obras dos crentes são imperfeitas e estão manchadas pelo pecado, e somente são aceitáveis a Deus através de Jesus Cristo, em quem, e em quem unicamente, que é o amado, suas pessoas são aceitas e agradáveis a Deus. Notemos que o autor da Epístola aos Hebreus observa,que pela fé, Abel ofereceu mais excelente sacrifício que Caim (Hb 11.4).

I. A OFERTA DE ABEL

1. Uma oferta agradável a Deus. É bom esclarecer o seguinte: note o seguinte texto:“e a Sete também nasceu um filho; e chamou o seu nome Enos; então se começou a invocar o nome do SENHOR.” (Gn 4.26); aparentemente, há uma contradição, não é? Como se explica isso? “E aconteceu ao cabo de dias que Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao SENHOR. E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o SENHOR para Abel e para a sua oferta.” (Gn 4.3,4); a resposta é simples, de fato, sempre houveram verdadeiros adoradores a Deus, começando pelos nossos pais, Adão e Eva, passando por outros tantos, ocorre que o que houve de especial em Gn 4.26 é que agora a população já estava maior, se fala em adoração pública, distinta das realizadas anteriormente, quando era restrita ao seio do lar, esta é a diferença, uma é reservada, a outra é pública. Nenhum homem pode ser justificado ou salvo por suas obras, e portanto nenhum homem pode ser aceito por Deus por esta causa; Como já dito na introdução, foi o caráter espiritual e digno de Abel que o tornou apto a ofertar. Não há a ideia de barganha com o que é a obrigação do crente, contrariamente ao que é ensinado em alguns púlpitos, Deus não negocia bênçãos. Deus não nos deve nada, se Ele nos dá algo é por sua maravilhosa graça, não pelo nosso merecimento. E a primeira primícias que Ele quer é a nossa vida. Não há oferta ou trabalho que esconda uma vida de pecados ou dedicadas a outras atividades. Da mesma forma que não existe dedicação à Igreja que substitua a permanente entrega das nossas vidas a Deus. O adorador e sua oferta são inseparáveis, pela fé, Abel obteve testemunho de ser justo, pois Deus aprovou suas ofertas; sem fé, nem Caim, nem suas ofertas eram agradáveis a Deus (Hb 11.4,6). A exemplo de Jó, Deus tem prazer em destacar as virtudes, as motivações corretas do coração, as ações que glorificam Seu Nome e refletem Seu caráter. O importante na adoração é a atitude de coração e mente. A verdadeira adoração não é apenas forma e cerimônia, mas realidade espiritual que está em harmonia com a natureza de Deus, em verdade, transparente, sincera e de acordo com os mandamentos bíblicos.

2. Uma oferta profética. Cada um dos irmãos trouxe uma oferta voluntária apropria da a sua vocação (Gn 32.13-21); Abel trouxe das primícias (Dt 26.1-11) e do melhor que o adorador tinha a oferecer: o primeiro e o melhor, pelo que, Caim deixou de trazer os dois. Alguns estudiosos apontam para o fato de que Abel trouxe um sacrifício de sangue, enquanto Caim não o fez.

3. Uma oferta valiosa. O louvor de Abel ainda ecoa o fato de que um verdadeiro adorador deve vir com fé, apresentando o sacrifício exigido por Deus. Deus deu testemunho da justiça de Abel porque o justo vive da fé, ou seja, de toda palavra que sai da boca de Deus. A justificação de Deus é de vida, pois Ele cria o justo, e o declara justo “Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18). O problema da rejeição de Caim não estava na voluntariedade e nem na sua oferta. O problema estava em Caim, pois primeiro ele foi rejeitado, para depois a oferta ser rejeitada (Gn 4.5). Ao oferecer voluntariamente seu sacrifício, Abel foi justificado por Deus, foi aceito por Deus, e consequentemente também a sua oferta (Hb 11.4). Abel sabia da existência de Deus por intermédio de seus pais, e ao aproximar-se para ofertar, tinha plena certeza que Deus recompensa aqueles que O buscam. O mesmo fato pode ser observado com Abraão: “Creu Abrão no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6), e Paulo atesta “Não obstante, aquele que não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé e imputada como justiça” (Rm 4.5). Finalizando o tópico, da própria terra, o sangue de Abel clamou por vingança (Gn 4.10), mas o sangue de Jesus, usando a mesma figura, ‘fala coisas superiores’, clama pelo perdão dos filhos de Deus! (Hb 9.12-15;10.19-22). Note que é neste sentido que o texto de Hb 12.24 diz que o sangue de Cristo “fala melhor que o de Abel” – o de Abel clama por vingança, o de Cristo por perdão!

II. A INJUSTIÇA CONTRA ABEL

1. Abel era um homem justo. Abel recebeu pouca revelação, mas creu. E Deus o purificou graciosamente por meio da fé e da obediência. E se a Escritura dá o testemunho de uma fé salvadora como essa, qualquer outra fé que não essa, é enganosa, falsa, controversa, manipuladora, escravizante. Pois há um só meio de salvação, como diz Paulo e apenas um Mediador entre Deus e os homens, e o próprio Jesus afirmou ser ele o Caminho, não “um” caminho. Se você tem qualquer outra fé que não essa testemunhada na Escritura, livre-se dela, ou ela se livrará de você. Segundo o relato de Hebreus 11.4, Abel ofereceu ao Senhor um melhor sacrifício do que o de Caim. Como já vimos anteriormente, Deus avalia a qualidade do culto que prestamos; a oferta de Abel foi melhor do que a de seu irmão porque Deus viu o interior (Gn 4.7). Não podemos desassociar nossa vida cotidiana de nosso culto ao Senhor. De nada adianta nossas mãos erguidas na adoração se durante a semana nossa vida está associada com o pecado.

2. Abel, o primeiro mártir. Seu nome significa sopro, vaidade, vapor. E tão rapidamente Abel subiu da terra, foi morto, desapareceu de entre os viventes. Mas o seu testemunho de fé falou a todos os homens que viriam depois dele. Falou que as promessas de Deus reservam coisas excelentes a se esperar e que se tornariam fatos, embora naquele momento ainda não fossem visíveis ao olho. É exatamente isso o que a fé de Abel fala. Ela fala de coisas superiores aos infortúnios desta vida. Mesmo depois de morto sua fé fala coisas superiores à própria morte. Pois a Palavra da fé diz: Se vivemos, para o Senhor vivemos; e se morremos, para o Senhor morremos; assim, quer vivamos, quer morramos, somos do Senhor (Rm 14.8). Jesus Cristo, o Justo também foi morto por ter obedecido ao Pai. O sangue de Abel clama por vingança e maldição (Gn 4.10,11). Porém o sangue de Jesus fala coisas superiores ao de Abel (Hb 12.24), por que não clama por vingança e maldição, mas por reconciliação, paz, bênção, justificação, liberdade. Era isso que a fé de Abel e sua oferta gritavam quanto aquilo que ele esperava, embora não visse. Outro seria morto em seu lugar – era essa sua convicção, e isso foi imputado a ele como justiça por Deus. Sua fé, afinal, falava da graça prometida.

3. O sangue de Abel. O tema do amor fraterno ocorre muito cedo na Escritura; desde o início, fica claro que Deus coloca uma alta prioridade na maneira como irmãos se relacionam. Nest5a passagem, a questão da responsabilidade de um pelo outro surge pela primeira vez. Caim pergunta: “Sou eu guardador do meu irmão?” O termo usado para guardador (Hb shamar) significa “guardar, proteger, prestar atenção, ou considerar.” Somos nós responsáveis pelos outros? “Sem sombra de dúvida” é a resposta de Deus. Nós não somente somos guardadores do nosso irmão, como também somos responsáveis pelo nosso tratamento e pela nossa maneira de relacionar-se com os nossos irmãos (de sangue e espirituais). Em virtude do pecado de Caim contra o seu irmão, Deus o amaldiçoa em toda a terra, retira a sua habilidade para o cultivo da terra e o sentencia a uma vida como fugitivo e errante. Isto indica claramente que a falta de amor fraterno destina a pessoa à esterilidade e ausência de propósito na vida. Ao longo da Bíblia, o Senhor podia ter perguntado a muita gente pelos seus irmãos. O Senhor, hoje, ainda continua a fazer essa pergunta a cada um de nós: “Onde está o teu irmão?” Só que nós também respondemos: “Não sei. Será que eu sou o guarda do meu irmão? Gn 4.9 retrata um encontro de Caim com Deus, logo após o assassinato de Abel. Ao ler esse texto, destaca-se a expressão “meu irmão”. É como uma cobrança de algo que parece não fazermos mais: Será que temos falhado com algum irmão? Será temos nos preocupado ou até mesmo nos esquecido de alguns deles? Com alguns somos mais chegados e nos importamos mais, já outros nos parecem ser indiferentes. “Portanto, recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu, para glória de Deus” (Rm 15.7); “Pai... quando eu estava com eles, GUARDAVA-OS no teu nome que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu” (Jo 17.12) - Que diferença! Jesus não só os guardou, mas selou seu compromisso com seus irmãos entregando sua própria vida. Ao passo que o sangue de Abel clama por vingança (Is 26.21; Mt 23.35; Ap 6.10) o de Cristo clama por perdão (Hb 12.24).

III. UM HOMEM QUE AGRADOU A DEUS

1. Abel soube agradar a Deus. Na tentativa de agradar a Deus o homem se lança em jejuns, orações, penitências, abstinências, meditação, caridade, confissões, esmolas, etc., mas somente pela fé, a que uma vez foi dada aos santos, é possível tornar-se agradável a Deus (Jd 1.3). O que podemos oferecer a Deus que seja tão precioso a ponto de ser agradável a Ele? A única coisa que realmente nos pertence nesta vida: nosso coração. Não há nada mais precioso do que o nosso coração, a sede de todos os pensamentos e sentimentos – que controla nossa ser. Através da Bíblia, a única abordagem que agrada a Deus é lhe obedecer no que ele manda. Porém esta questão envolve muito mais do que isso. Deve-se lembrar que ao lidar com a palavra de Deus, estamos lidando com Deus. A coisa que Deus exige é uma reverência para com ele que comove até a obediência, seja esta obediência em relação a uma proibição, ou uma questão de honrar o silêncio de Deus, ou de examinar as Escrituras para ter certeza daquilo que ele quer. Quando Deus repetiu a Isaque as promessas dadas a Abraão, ele disse que cumpriria estas promessas, “Porque Abraão obedeceu à minha palavra e guardou os meus mandados, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis” (Gênesis 26.4-5). Quando Saul falhou em cumprir o que Deus lhe havia dito, Samuel disse a ele: “Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros” (1 Samuel 15.22). O coração de um filho amável procura obedecer ao pai. Se amarmos a Deus, vamos querer fazer a sua vontade, independente de como ele expressá-la. Jesus falou daqueles que estavam dispostos a fazer a vontade do Pai (João 7.17). A prova mais verdadeira da devoção a Deus não é simplesmente fazer a sua vontade, mas fazer a sua vontade porque assim desejamos. Note também que o amor por outros cristãos é tanto uma característica da nova natureza dos crentes quanto da vida justa (Jo 13.35). Aquele que ama de verdade não se deixa dominar nem pela inveja nem pelo ódio.

2. Abel, buscou a Deus. A base do capítulo 11 de Hebreus é, do princípio ao fim, um exemplo de que os antigos também viveram por fé. “Porque pela fé os antigos obtiveram bom testemunho. As 20 repetições da expressão “pela fé” no capítulo onze, indicam que a salvação sempre tem sido pela fé. Mesmo Abel, não foi salvo pelo sacrifício que ofereceu a Deus, mas pela sua fé no Senhor. Do mesmo modo Enoque agradou a Deus, e Noé foi herdeiro da justiça (Hb 11.5,7), os quais devemos imitar, como exemplo”. Deus quer ser adorado e louvado em espírito e em verdade. Não é cerimonialismo, tradições ou invenções impostas pelos homens, mas adoração que saia de um coração contrito, quebrantado. O autor aos Hebreus nos pede: "Por meio de Jesus, portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome" (Hb 13.15).

3. Caim agradou ao Diabo. Já vimos que o ponto central da questão da rejeição de Caim foi o seu coração mau, por isso, Deus rejeitou a sua oferta. Enquanto Abel não se valia do sacrifício para buscar o favor de Deus, mas sim da fé, Caim, esperava algum mérito pela oferta, pois não dedicava o seu coração a Deus. (Hb 11.4). No texto de Gênesis o único indício que temos sobre o motivo de Deus não aceitar a oferta de Caim está no versículo 7: “Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo”. O problema de Caim era “não fazer o bem”. Muitos interpretes tentam explicar essa recusa e três possibilidades são as mais sugeridas:
a. A primeira sugestão é que Abel ofereceu o melhor que possuía, ao contrário de Caim. Curiosamente essa é a sugestão mais conhecida, porém não existem indicações bíblicas que defendam essa hipótese no texto.
b. A segunda é que Caim trouxe uma oferta onde não houve um “derramamento de sangue”, e, desta forma, se passou por um homem justo e sem necessidade de qualquer sacrifício pelos pecados. Essa hipótese assume que Deus previamente havia instruído sobre o tipo de oferta que deveria ser apresentada para fazer a expiação pelos pecados, logo, Caim desobedeceu a essa instrução. O versículo 3 do mesmo capítulo é utilizado para defender essa interpretação, afirmando que o sacrifício já era habitual para eles.
c. A terceira possibilidade defende que a atitude de Caim estava errada, em seu interior em relação a sua comunhão com Deus. Em Hebreus 11.4 é relatado que “foi pela fé” que Abel ofereceu um sacrifício maior que o de Caim, e, por sua ira invejosa, Deus censurou Caim. A ira de Caim mostra quão decidido ele estava em agir por conta própria, sem se submeter a Deus. A ira é uma emoção destruidora. Nunca poderemos nos desculpar por ter ofendido alguém dizendo: 'Tenho um temperamento agressivo'. Precisamos considerar a ira como pecado e conscientemente nos submeter à vontade de Deus. O poder do pecado dominou o coração de Caim, que se tornou maligno. Sob o doinínio de um profundo ódio contra o seu irmão Abel, sem que o mesmo tivesse feito qualquer coisa que justificasse sua raiva, ele usou de engodo, ao convidá-lo a ir ao campo, para depois atacá-lo e matá-lo ((Gn 4.8). O fato de tê-lo levado, indica que o crime fora premeditado, para escapar dos olhos de seus país e, deste modo, evitar testemunhas contra o seu pecado. Caim procurou fugir da responsabilidade de seu crime, como muita gente faz boje, por não querer as­sumir seus próprios pecados. No texto de Genesis 4. 11 e 12 Deus expressa a sua rejeição e a inevitável maldição, ao dizer-lhe: "E agora maldito és desde a terra, que abriu a sua boca para receber das tuas mãos o sangue de teu irmão". Caim ficou no estado em que estão muitos, hoje. Não tinha coragem nem sentia ânimo para clamar por perdão, mas num espírito pessimista e com os olhos fechados para a misericórdia de Deus só exclamou: "Maior é a minha pena do que eu possa suportar." (v. 13)


CONCLUSÃO

O sacrifício deve ser oferecido com fé, pois, sem fé é impossível agradar a Deus, indiferente do sacrifício. Os dois filhos de Adão trouxeram sacrifício ao Senhor. O Senhor se agradou de um e desagradou-se do outro. E o que levou o Senhor agradar-se de um e do outro não agradar-se está diretamente ligado ao procedimento de fé de cada um dos irmãos. Havia no sacrifício de Abel um ingrediente muito importante chamado fé, ao passo que, Caim, talvez estivesse apenas cumprindo um ritual religioso. O que separa uma vida religiosa de uma vida de intimidade com Deus é o ingrediente “fé” no que fazemos diante de Deus e para Deus. Note que a razão do sacrifício é evidenciar a fé do ofertante: Hebreus 11.4 assevera: “Pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e por ela, depois de morto, ainda fala.” A diferença entre Caim e Abel pode ser vista em todas as épocas. Os Publicanos e Fariseus nos dão um retrato disto no Novo Testamento [Lc 18.9-14]. O "caminho de Caim" [Judas 11] é o caminho da salvação através das obras e da religião. Deus alertou a Caim, porém, ele não deu ouvidos. Eva foi induzida a pecar e agora Caim não podia o resistir. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória. Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”. (Jd.24-25).

REFERÊNCIAS:

ARRINGTON, French L. et STRONDSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal – Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada – Como interpretar a Bíblia de maneira fácil e eficaz. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Bíblia de Estudo Matthew Henry. Rio de Janeiro: Editora Central Gospel, 2016.
Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Hebraico-Grego. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
BOYER, Orlando. PEQUENA ENCICLOPÉDIA BÍBLICA. Estados Unidos da América: Vida, 1998.
HENRY, Matthew. Comentário Bíblico – Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
LIMA, Elinaldo Renovato de. O Caráter do Cristão. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 3ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
_____. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2008.

Lição 1 - A Formação do Caráter Cristão

SUBSÍDIO PARA A ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.

2º Trimestre/2017 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Efésios 4.17-24

TEXTO ÁUREO: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim." (Gl 5.20)

INTRODUÇÃO
Deus está permanentemente em busca de algo. Você já pensou nisso um dia? A busca de Deus é o propósito tramado no estofo do Novo Testamento. O padrão que ele persegue está definido em Romanos 8.29, onde ele promete que nos conformará à imagem de seu Filho. Outra promessa está registrada em Filipenses 1.6, onde lemos que ele iniciou boa obra em nós e não vai interrompê-la. Noutro passo bíblico, ele chega a chamar-nos de "feitura" sua (Efésios 2.10). Ele está nos martelando, limando, esculpindo, dando-nos forma! A segunda carta de Pedro chega ao ponto de relacionar alguns dos objetivos dessa busca encetada por Deus: diligência, fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade e amor (2 Pedro 1.5-7). Numa palavra: caráter. Tiago escreve: "Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por provações, sabendo que a prova da vossa fé desenvolve a perseverança. Ora, a perseverança deve terminar a sua obra para que sejais maduros e completos, não tendo falta de coisa alguma." (Tg 1.2-4). Em Gênesis encontramos o registro de Moisés explicando que o homem, enganado por Satanás, rebelou-se contra o seu Criador, perdendo sua condição perfeita, a ponto de a imagem de Deus, no qual ele tinha sido formado, ter sido destruída. Não somente o homem, mas toda a criação, que foi trazida a existência para o bem do homem, caiu junto com ele perdendo também sua excelência. A Bíblia é farta de ensinamentos referentes à virtude, à moral e ao caráter cristão. Os preceitos da Lei, especialmente os do Decálogo (Êx 20), as mensagens éticas dos profetas (Is 10.1,2; Hc 2), os ensinos de Jesus (Mt 5-7), e as doutrinas exaradas nas epístolas (Rm 12.9-21; 1 Pe 3.8-16), revelam a vontade Deus para a vida moral do homem (2 Tm 3.16).

l - O CARÁTER NA REALIDADE DO HOMEM

1. O que é caráter? Caráter é um conjunto de características e traços relativos à maneira de agir e de reagir de um indivíduo ou de um grupo. É um feitio moral. É a firmeza e coerência de atitudes. O conjunto das qualidades e defeitos de uma pessoa é que vão determinar a sua conduta e a sua moralidade, o seu caráter. Os seus valores e firmeza moral definem a coerência das suas ações, do seu procedimento e comportamento. Caráter, então, é o conjunto das qualidades boas ou más de um individuo; a ética do juiz é a lei e a de Deus é a bíblica, a Bíblia nos ensina a não ser conivente com o erro, mesmo que ele esteja protegido por leis. O caráter determina a conduta do ser humano com relação a Deus e a ele mesmo e também com o próximo. A pessoa não é apenas definida por aquilo que ela é, mas também pelo seu estado moral que a distingue em seu grupo (Pv 11.17;12.2;14.14;20.27).

2. Personalidade e caráter. Personalidade é o conjunto das características marcantes de uma pessoa, é a força ativa que ajuda a determinar o relacionamento das pessoas baseado em seu padrão de individualidade pessoal e social, referente ao pensar, sentir e agir. Uma pessoa conhecida como "sem caráter" ou "mau caráter", geralmente é qualificada como desonesta, pois não apresenta firmeza de princípios ou de moral. Por outro lado, uma pessoa "de caráter" é alguém com formação moral sólida e incontestável. O caráter quando é forte, não se deixa levar por alguma proposta de uma via mais fácil para a realização de algo. Mesmo se naquele momento parece ser o melhor caminho a seguir, é o caráter que vai determinar a escolha do indivíduo. Atingido pelo pecado, o homem teve sua natureza moral corrompida (Rm 1.18-32), necessitando assim da nova vida em Cristo (2 Co 5.17). Ao ser regenerado, o homem recebe da parte de Deus um novo caráter (2 Co 5.17). O Espírito Santo, por meio de suas ministrações (Rm 8.1-17; Gl 5.22-26), aperfeiçoa-o gradualmente (2 Co 3.18; 1 Pe 1.2). Na continuação, o Espírito da Verdade passa a controlá-lo por completo, de modo que suas ações passam a ser moldadas por Ele (Rm 8.5-11). Uma vez que a imagem perdida no Éden fora restaurada, o homem passa a experimentar e demonstrar uma vida de integridade (Gn 3.11-13; Rm 5.12; 1 Co 15.22,45; Ef 4.23,24).

II-A DEFORMAÇÃO DO CARÁTER HUMANO

1. A Queda e o caráter humano. O Conselho Divino e Triúno determinou que o ser humano deveria ter a imagem e semelhança de Deus. O homem é um ser moral cuja inteligência, percepção e autodeterminação excedem em muito os de qualquer outro ser terreno. O pecado tem subtraído do ser humano toda a sua sensibilidade concernente aos princípios e valores morais. Sem que se perceba, sua natureza moral é corrompida (Rm 1.18-32), seu coração é endurecido (Hb 3.7-19) e sua consciência é cauterizada (1 Tm 4.2; Ef 4.18). É nesse ponto que o homem se torna insensível à voz do Espírito, passando a praticar todo tipo de pecado, entristecendo ao Todo-Poderoso (Ef 4.31). Portanto, é dever de todos os crentes observarem os limites estabelecidos pela Palavra de Deus, para que vivam “como astros no mundo” (Fp 2.15). O caráter doentio é caracterizado pela insensibilidade moral, permissividade, mentira, malícia, concupiscência, cobiça e ambição.
2. Imagem e semelhança de Deus. Em termos bem simples, ter a “imagem” e “semelhança” de Deus significa que fomos feitos para nos parecermos com Deus – esta aparência não é física - Adão não se pareceu com Deus no sentido de que Deus tivesse carne e sangue. As Escrituras dizem que “Deus é espírito” (Jo 4.24) e portanto existe sem um corpo. Entretanto, o corpo de Adão espelhou a vida de Deus, ao ponto de ter sido criado em perfeita saúde e não ser sujeito à morte. A imagem de Deus se refere à parte imaterial do homem. Ela separa o homem do mundo animal, e o encaixa na “dominação” que Deus pretendeu (Gn 1.28), e o capacita a ter comunhão com seu Criador. É uma semelhança mental, moral e social (Gn 1.26-28; 5.1-3; 9.6).

3. A deformação do caráter humano. Quando o homem caiu, perdeu ele totalmente a semelhança moral com o Criador? Em seu aspecto estrutural ou ontológico (aquilo que o homem é), não foi eliminado com a queda, o homem continuou homem, mas após a queda, o aspecto funcional (aquilo que o homem faz) da imagem de Deus, seus dons, talentos e habilidades passaram a ser usados para afrontar a Deus. Nossos primeiros pais, seduzidos pela astúcia e tentação de Satanás, pecaram, desobedecendo à ordenança divina (Gn 3.13; 2Co 11.3; Rm 11.32 e 5.20-21). Por este pecado, decaíram da sua retidão original e da sua comunhão com Deus, tornando-se mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma (Gn 3.6-8; Rm 3.23; Ef 2.1-3). Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal, é que procedem todas as transgressões atuais (Rm 5.6; 7.18; Cl 1.21; Tg 1.14-15). Mas esta imagem não foi totalmente aniquilada com a Queda, embora tenha se tornado terrivelmente deformada, doentia e desfigurada. O homem antes criado para refletir Deus, agora após a queda, precisa ter esta condição restaurada. Esta renovação da imagem original de Deus no homem significa que o homem é capacitado a voltar-se para Deus, a voltar-se para o próximo e também voltar-se para a criação para governá-la.
As consequências principais do pecado são a morte e a separação da presença de Deus (Rm 6.23). Essas duas consequências causam muito sofrimento na vida do pecador. O pecado também traz muitas outras consequências secundárias.

a) No relacionamento com Deus. O pecado desfigurou o homem, cortando a ligação direta com seu Deus: "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.23). O pecado passou a todos os homens (Rm 5.12; SI 51.5). As repercussões e o alcance desse fato terrível, de natureza espiritual, têm sido sentidos ao longo da história. O pecado distanciou o homem de Deus e o levou a criar seus próprios deuses segundo suas malignas concupiscências, para agradarão príncipe deste mundo. Toda religião que não tem Deus como o Criador, e Jesus Cristo, seu Filho, como Salvador, é instrumento do Diabo para afastar o homem de Deus.

b) No relacionamento humano. Quando Deus perguntou a Adão se ele havia comido do fruto da árvore proibida, este não assumiu a culpa, mas procurou justificar seu erro, acusando a esposa. Quando Deus questionou Eva a respeito dos seus atos, ela transferiu a culpa para a serpente (Gn 3.9-13). O relacionamento de Adão e Eva foi afetado pelo pecado, culpa e medo. Não demorou muito, e ali, no Éden, houve um confronto entre o caráter mau, de Caim, e o caráter justo, de Abel. Caim matou seu irmão, Abel (Gn 4.8). Lameque matou um homem adulto e um jovem (Gn 4-23). A morte e a corrupção se espalharam com o passar dos séculos. O juízo de Deus foi enviado no seu tempo, através do Dilúvio (Gn 6-8).

c) No relacionamento com a natureza.  "E tomou o SENHOR Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar" (Gn 2.15). Além de cuidar do jardim, o homem teria o domínio da Terra, com autoridade delegada pelo Criador sobre todos os animais (Gn 1.28). Mas, usando mal o seu livre--arbítrio, o ser humano fracassou em cuidar de si mesmo e do planeta. E tem poluído o ar, o solo, as águas e todo o ambiente natural. Mas Deus destruirá os que destroem a Terra (Ap 11.18).


lll- A REDENÇÃO DO CARÁTER HUMANO

1. Novo nascimento, transformação do caráter. Num sentido, como já dissemos, o homem ainda é portador da imagem de Deus, mas também num sentido, ele precisa ser renovado nesta imagem. Esta restauração da imagem só é possível através de Cristo, porque Cristo é a imagem perfeita de Deus, e o pecador precisa agora tornar-se mais semelhante a Cristo. Lemos em Cl 1.15 "Ele é a imagem do Deus invisível" e em Rm 8.29 que Deus nos predestinou para sermos "Conforme a imagem de Seu Filho ..." (1Jo 3.2; 2Co 3.18). O ser humano traz em sua natureza uma forte inclinação para o pecado (Rm 7.18-23; Pv 4.14-17). Trata-se de uma tremenda força maligna impossível de ser superada sem a ajuda divina. É justamente por isso que Deus nos enviou seu Espírito para habitar em nós, dando-nos a condição de andarmos em novidade de vida (Rm 6.4; 2 Co 5.17). Somente pelo Espírito Eterno, o crente pode caminhar seguro, resistindo aos desejos da carne (Rm 8.1,9,13; Cl 5.16). Em Gálatas 5, o apóstolo Paulo enumera várias obras da carne que contaminam o caráter do homem sem Cristo (Gl 5.19-21). Todavia, nesse mesmo capítulo, encontramos um conjunto de valores espirituais que garante a saúde moral do crente (v.22).

2. A Palavra de Deus muda o caráter. Quando o ser humano recebe Jesus Cristo como Senhor e Salvador de sua vida, e mantém uma comunhão intensa com Ele, o Espírito Santo gera nessa pessoa virtudes que refletem o caráter de Deus, que o apóstolo Paulo chama de Fruto do Espírito. O Fruto é gerado na medida em que o Espírito Santo vai transmitindo, ou gravando, no caráter do homem virtudes existentes em Deus, das quais Paulo relacionou nove em Gálatas 5.22. Elas são a maravilhosa descrição do Caráter de Cristo que devemos adquirir dia a dia pelo estudo da Palavra de Deus e comunhão devocional com o Senhor. Somente quando tais virtudes tornam-se perceptíveis em nossas vidas podemos entender o que é ser um cristão cheio do Espírito Santo. Se dermos lugar ao Espírito Santo e santificarmos nossas vidas, as pessoas verão que Deus está em nossas vidas, pois pelos frutos somos conhecidos. Aliás, um dos propósitos do Fruto do Espirito é nos identificar. Assim como uma árvore é conhecida pelos seus frutos, o crente verdadeiro é reconhecido por suas ações. O Fruto também revela a nossa comunhão e o quanto temos aprendido do Senhor. Este amor é a base e o fundamento onde todos os outros atributos são edificados. O apóstolo Paulo diz que em primeiro lugar quando estamos unidos a Cristo, o amor atua ou age através da nossa fé(Gl 5.6). Em segundo lugar, pelo amor que está em nós, podemos servir uns aos outros sem impor nada a ninguém (Gl 5.13). E em terceiro lugar, toda lei se resume em amar o próximo como a nós mesmos (Gl 5.14). Note que ninguém pode dizer que tem um aspecto do fruto e outro não; isso porque é o amor o lastro onde as demais virtudes se desenvolvem. A Bíblia Sagrada é a única regra de fé e prática do cristão. Ela nos apresenta o padrão de comportamento necessário ao homem que deseja viver uma vida justa, sóbria e piedosa neste mundo (Tt 2.12). Ao longo da narrativa bíblica deparamo-nos com uma série de valores e virtudes morais e espirituais estabelecidas por Deus para o homem. Todavia, estas qualidades indispensáveis ao ser humano, só foram plenamente identificadas e vividas em Jesus. Hoje sabemos que essas santas virtudes estão ao alcance de todos, por meio da extraordinária obra do Espírito. É imprescindível ao homem conhecer muito bem as Escrituras e o poder de Deus para que não erre na busca de uma vida virtuosa diante de Deus e do próximo (Mt 22.29).

3. O caráter amoroso e santo do crente. Deus está associado com o amor, o amor é a essência de Deus. O amor sincero e veradeiro é algo que representa o nosso Deus. Ele é a nossa fonte de amor. É Deus quem nos ensina a dar e receber amor. O amor é a maior das virtudes do fruto do Espírito. Vem do grego ÁGAPE e significa muito mais do que sentimentos e emoções; é o amor altruísta baseado na ação em favor de outrem. Em João 3:16 temos o versículo crucial que denota a grandeza deste amor. Essa virtude maior do Espírito, deve estar acima de quaisquer circunstância na vida do crente. “...para que venham a tornar-se puros e irrepreensíveis” (Fp 2.15a) "Vida irrepreensível" significa viver de modo a não dar motivo de repreensão, ou seja: uma vida totalmente isenta de culpa. Paulo escreveu em uma época onde havia a escravidão humana. Em Creta, assim como em todo o império romano, havia muitos escravos. Na igreja existia senhores e escravos que se converteram a Cristo, por isso, Paulo mostra como devia ser o relacionamento, a conduta dos servos e dos senhores. O apóstolo mostra que os servos deveriam agradar seus senhores “em tudo”, pois um senhor crente não daria ordens que fossem incompatíveis com a fé cristã e com a Palavra de Deus. Os escravos que tinham senhores crentes deveriam manter uma atitude de submissão. Em Efésios 4.1-16, Paulo tratou da unidade da igreja. Nesse parágrafo, ele trata da pureza da igreja. Paulo faz o mesmo tipo de introdução nos versículos 1 e 17. A pureza é uma característica do povo de DEUS tão indispensável quanto a unidade.


CONCLUSÃO
Quando uma pessoa aceita a Cristo como Salvador de sua alma, experimenta, imediatamente, uma profunda modificação em seu interior. Essa mudança é demonstrada não apenas nos relacionamentos, mas também nas escolhas, atitudes e responsabilidades assumidas durante a sua nova vida (Cl 3.1-17). O caráter cristão é preservado mediante a comunhão do crente com o Espírito Santo, pelo conhecimento da Palavra e através de uma vida cristã disciplinada. “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória. Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”. (Jd.24-25).

REFERÊNCIAS:

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