domingo, 19 de junho de 2016

Lição 12 – Cosmovisão Missionária

SUBSÍDIO PARA A ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.

2º Trimestre/2016

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Romanos 15.20-29

TEXTO ÁUREO: “E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Rm 15.20).

INTRODUÇÃO

Inicialmente, esclarece-se que aquilo que cada pessoa é, o que defende, o que vive, é resultado da cosmovisão que permeia sua vida. Em nosso caso específico, vivemos de acordo com a Cosmovisão Cristã. Missões, proveniente do latim (missio) Transmissão consciente e planejada das Boas Novas do evangelho de Cristo além das fronteiras nacionais e culturais. Suzana Wesley mãe do grande pregador e fundador do metodismo John Wesley, disse “se eu tivesse vinte filhos, regozijar-me-ia em consagrar todos eles a obra missionária, ainda que fosse com a certeza de nunca voltar a vê-los”. Vimos na lição anterior que a discussão a respeito da liberdade e da responsabilidade cristã vem do capítulo 14 e vai até o 15.13. Agora, já finalizando a carta, em vários aspectos, o final é similar à sua abertura (1.8-15), contendo elogia a fé deles (1.8); defesa de seu apostolado com o evangelho para os gentios (1.13,14); afirmação do desejo de visitar os crentes em Roma (1.10,13); salienta seu desejo de que eles o ajudem a prosseguir para regiões ainda não evangelizadas (Espanha, em 1.13). Podemos ver ainda, uma pista da tensão entre crentes judeus e crentes gentios na igreja romana, mencionada ou implícita através de toda a carta, mas especialmente nos capítulos 9 a 11 e do 14.1 ao 15.13. Os planos de viagem de Paulo para esse propósito devem levá-lo a passar em Roma (vv.22-33), e o texto áureo nos informa da estratégia missionária consistente de Paulo (1Co 3.10; 2Co 10.15-16). Ele queria alcançar os pagãos que nunca tinham tido a chance de ouvir e receber o evangelho. Normalmente ele escolhia cidades grandes do Império Romano, aquelas estrategicamente localizadas. Uma igreja que fosse estabelecida ali poderia evangelizar e discipular as áreas ao redor. Ele convida assim, os romanos, a investirem na obra missionária.

I. A NECESSIDADE DE UMA COSMOVISÃO MISSIONÁRIA (Rm 15.14-21)

1. O propósito da missão. Os versículos 16 e 17 contêm diversos termos e frases sacerdotais. “Ministrar” é referente ao serviço sacerdotal, no v. 27. Refere-se ao serviço de Cristo, em Hb 8.2. Paulo via a Si mesmo como um sacerdote (Fp 2.17), oferecendo os gentios a Deus, o que era tarefa para Israel (Ex 19.5-6; Is 66.20). A Igreja recebeu essa designação evangelística (Mt 28.18-20; Lc 24.47). Ela é chamada por expressões que no VT se aplicavam ao sacerdócio (1 Pe 2.5,9; Ap 1.6). Paulo vê a pregação do Evangelho como o meio mediante o qual os gentios seriam conduzidos a Deus como uma oferenda agradável de ação de graça (v. 12.1). O mundo inteiro está debaixo da esfera do interesse de Deus.

2. O agente da missão. No versículo 19 “pelo poder dos sinais e prodígios” temos dois termos que aparecem juntos muitas vezes, no livro de Atos (14.8-10; 16.16-18, 25-26; 20.9-12; 28.89), descrevendo o poder de Deus trabalhando através do evangelho (2Co 12.12). Eles parecem ser sinônimos. Exatamente a que se referem – milagres ou conversão – é incerto. Paulo cogita assim, que conforme Deus confirmava o trabalho dos doze em Jerusalém, ele também confirmava o trabalho de Paulo entre os gentios, através de sinais visíveis. Paulo listou as diferentes formas como o seu ministério para os gentios era eficaz:
a) pela palavra;
b) pelos atos;
c) através de sinais;
d) com maravilhas; e
e) através do poder do Espírito.
A tarefa missionária é feita por fé. Deus ordenou que o cristianismo fosse uma religião de fé. A obra missionária verdadeira e bem-sucedida, portanto, pode ser feita apenas por homens de fé, que conhecem Deus e tem aprendido a se apropriar das promessas de Deus. O maior empreendimento do mundo são as missões estrangeiras, e aqui temos o início dessa grande obra. A ideia originou-se exatamente como devia: numa reunião de oração – pelo poder do Espírito Santo.

3. A esfera da missão. Pela leitura do versículo 23 entendemos que Paulo acreditava ter terminado sua tarefa de pregação no Mediterrâneo oriental. O Ilírico, província romana, também conhecida como Dalmácia, estava localizada no lado oriental do Mar Adriático, a nordeste da península grega (Macedônia). O livro de Atos não tem registro de Paulo pregando lá, mas o coloca na região (20.1-2). “Até” pode significar “até a fronteira” ou “até a região”. Crendo ter acabado seu ministério ali, Paulo projeta agora partir para a região ocidental do Império Romano (2Co 10.16). Existem relatos de que Paulo foi libertado do aprisionamento em Roma depois do encerramento de Atos e realizou uma quarta viagem missionária, chamadas por Clemente de Roma de “fronteiras do Oeste”, e, de fato, as cartas pastorais (1ª e 2ª a Timóteo e a de Tito) foram escritas no decorrer dessa quarta jornada (2Tm 4.10 - as traduções Vulgata e Cóptica têm “Gália”).

II. A NECESSIDADE DO PLANEJAMENTO MISSIONÁRIO (Rm 15.22-29)

1. Estabelecer bases. Duas coisas tornavam agora possível uma visita a Roma: a atual fase da comissão de Paulo fora cumprida, e a nova fase que envolvia uma visita à Espanha estava iminente, e Paulo busca a comunhão com os crentes que habitavam na cidade de Roma. “que para lá seja encaminhado por vós” – Esta frase tornou-se uma expressão técnica da Igreja para referir-se à ajuda a missionários itinerantes em viagem a seu próximo destino (At 15.3; 1Co 16.6, 11; 2Co 1.16; Tt 3.13; 3 Jo 6). Roma não estava em condições de contribuir para a ajuda à Igreja em Jerusalém, mas podia dar apoio financeiro às viagens missionárias de Paulo em direção ao Oeste. Para tratarmos sobre esta nova base de missões, precisamos entrar no v. 24. Aqui Paulo revela claramente seus propósitos e seus meios. Veja bem, o propósito final de Paulo, seu objetivo real, não era apenas conhecer a igreja de Roma. Isso ele poderia ter feito em outras circunstâncias. Seu objetivo final era chegar à Espanha. Este objetivo reflete o esforço de Paulo (15.20) e sua vocação (15.21), conforme já temos enfatizado. Ele pretendia chegar à Espanha para ali continuar desenvolvendo o seu ministério; "de passagem" por Roma (15.24), ele esperava ir à Espanha, enviado pela igreja de Roma. Quando Paulo diz no v. 24 "para lá seja por vós encaminhado", ele não apenas tinha em mente, mas estava claramente dizendo as coisas necessárias para a sua viagem e subsistência lá.

2. Estabelecer intercâmbio. Na sua segunda carta aos coríntios no capítulo 10 versículo 16, Paulo diz: “a fim de anunciar o evangelho para além das vossas fronteiras, sem com isto nos gloriarmos de coisas já realizadas em campo alheio.” Ele procurava pregar o evangelho nos lugares onde ainda não havia um trabalho em andamento, pois considerava o missionário como um lançador de fundamentos, de maneira que, pregar onde já havia um trabalho, significa edificar sobre trabalho de outrem. O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao lucro, popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não teriam suportado as angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo estava movido por suas convicções teológicas. Paulo desvenda agora seus planos imediatos de visitar Jerusalém, levando as dádivas que as igrejas haviam levantado para os crentes de Jerusalém, a Igreja-Mãe, que nesta época era uma cidade empobrecida de maneira geral; Paulo vê nesta ação social das “Igrejas-Filhas”, o exercício de um dever, de uma obrigação da parte dos gentios, em face do privilégio de terem sido enxertados na oliveira de Deus (11.17). Isto se conforma ao princípio geral de que aqueles que recebem bênçãos espirituais devem repartir suas bênçãos materiais (1Co 9.3-14; Gl 6.6).

III. A NECESSIDADE ESPIRITUAL NA OBRA MISSIONÁRIA (Rm 15.30-33)

1. A necessidade da cobertura espiritual. “rogo-vos, irmãos... que combatais comigo” (15.30). Estes são termos gregos muito fortes. O primeiro é usado também em 12.1. O segundo é usado quando é narrada a luta de Jesus no Getsêmani. É um composto de sun (juntamente com) e agōnizomai (contender, brigar, lutar severamente), de acordo com 1Co 9.25; Cl 1.29; 4.12; 1Tm 4.10; 6.12). Esta convocação tão forte chama a Igreja romana para agressivamente agonizar com Paulo em oração, a respeito da recepção da oferta dos gentios na igreja-mãe, em Jerusalém. Paulo sentia uma profunda necessidade de oração por si mesmo e por seu ministério evangelístico (2Co 1.11; Ef 6.18-20; Cl 4.3; 1Ts 5.25; 2Ts 3.1). Oração é pôr em ação prática a nossa crença em um Deus pessoal e interessado, que está presente, disposto e em condições de atuar em nosso favor e de outros; Oração de intercessão é um mistério. Deus ama aqueles por quem oramos (muito mais do que nós os amamos!), mas ainda assim nossas orações frequentemente provocam alguma mudança, resposta ou necessidade, não apenas em nós mesmos, mas neles. A oração de Paulo expressa três desejos:
a) que ele seja livrado de seus inimigos em Judá (At 20.22-23);
b) que as doações das igrejas dos gentios sejam bem recebidas pela Igreja em Jerusalém (At 15.1; 21.17); e
c) que ele então possa visitar Roma, na viagem para a Espanha.
Em todas as viagens que empreendeu, Paulo defrontou-se com muitas perseguições. Uma vez, foi apedrejado até considerarem-no morto. Em Filipos, apesar de ser um cidadão romano, foi despido e apanhou publicamente. No entanto, em vez de reclamar, na prisão daquela localidade, glorificou a Deus e ganhou o carcereiro para Jesus.

2. A necessidade do refrigério espiritual. A oração de Paulo finaliza com mais dois pedidos: que ele possa voltar a eles com alegria; e que ele possa desfrutar de um tempo de descanso com eles. Paulo necessita de um tempo de descanso e recuperação entre crentes maduros (2Co 4.7-12; 6.3-10; 11.23-33), no entanto, não consegue! Sentenças e audiências, mais anos de permanência na prisão, aguardavam por ele na Palestina.

CONCLUSÃO


Paulo não conhecia a igreja em Roma, entretanto, intentando ir à Espanha, evangelizar, (Rm 15.24) espera visitá-la no caminho, assim como tê-la como uma base de apoio em sua empreitada. Ele apresentou-se à igreja e discorreu sobre seu ministério e entendimento do evangelho, assim como solicitou apoio financeiro e logístico para sua viagem missionária até a Espanha. O que motivava Paulo a sair plantando igrejas, apesar da rejeição dos seus patrícios e das implacáveis perseguições que sofria? Sua preocupação é com a promoção do Reino de Cristo e neste objetivo, ele gastou sua vida. Paulo, escolhido por Deus para levar a mensagem aos gentios (At 9.15, 16), cumpre com êxito a sua tarefa. Em pouco mais de dez anos, e em três viagens missionárias, ele estabelece a igreja em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia (At 13.2, 14.28, 15.40, 18.23 e 21.17). Tudo aquilo que é planejado se torna mais eficaz além de muito mais produtivo! Como servos de Deus temos que entender que servimos a um Deus de Excelência que requer de nós o nosso melhor, além de sabermos que ele conta conosco para a propagação do Seu Reino e expansão da Sua Obra na Terra. Devemos, por fim, compreender que a obra missionária não é fragmentada, os que foram enviados a terras estranhas e os que ficaram, estão profundamente comprometidos com a evangelização de todos os seres humanos e não devem considerar como superior o seu trabalho nem o dos demais - há uma só missão! Não são apenas os vocacionados que vão para campos que são os verdadeiros missionários, mas todo crente, exercendo o ministério que recebeu de Deus, é um missionário. Paulo, por tudo o que sofreu, durante o exercício do seu ministério como apóstolo dos gentios, tornou-se o modelo para todos nós. Basta, agora, descruzarmos os braços, orarmos, buscarmos a direção divina e realizarmos a obra que o Senhor Jesus nos confiou, desde o momento em que o aceitamos como nosso Salvador.


REFERÊNCIAS:

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Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Bíblia de Estudo Palavras-Chave. Hebraico-Grego. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
BOYER, Orlando. PEQUENA ENCICLOPÉDIA BÍBLICA. Estados Unidos da América: Vida, 1998.
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RENOVATO, Elinaldo. Deus e a Bíblia. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
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terça-feira, 7 de junho de 2016

Lição 11 – A Tolerância Cristã

SUBSÍDIO PARA A ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.

2º Trimestre/2016

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Romanos 14.1-6

TEXTO ÁUREO: “Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17).

INTRODUÇÃO

Estudaremos nesta Aula os capítulos 14 e 15 da Epístola aos romanos. Em Romanos 12, o apóstolo Paulo abordou nosso relacionamento com Deus (Rm 12.1,2), com nós mesmos (Rm 12.3-8), com nossos irmãos (Rm 12.9-16) e com nossos inimigos (Rm 12.17-21); no capítulo 13, ele trata do relacionamento com as autoridades constituídas (Rm 13.1-7) e com a lei (Rm 13.8-10); nos capítulos 14 e 15, Paulo trata do intrincado problema do relacionamento entre irmãos na fé que pensam de forma diferente em algumas questões espirituais. Paulo classifica esses irmãos em dois grupos distintos: os fortes e os fracos na fé. Ambos eram crentes em Cristo e ambos eram salvos por Cristo. Embora esses dois grupos pertencessem à família de Deus e participassem da mesma igreja, não estavam de acordo acerca de alguns pontos da vida cristã como comida, bebida e dias sagrados. Os fracos seriam, em sua maioria, cristãos judeus, cuja “fraqueza” consistia no fato de permanecerem, de sã consciência, comprometidos com as regras judaicas concernentes a dieta e dias religiosos. Ou seja, eles continuavam observando as normas alimentares do Antigo Testamento, comendo apenas coisas previstas na Torá (Rm 14.14,20). Quanto aos dias especiais, observavam tanto o sábado como os festivais judaicos. A atitude conciliatória de Paulo com relação aos “fracos” (não permitindo que os ”fortes” os desprezem, intimidem, condenem ou prejudiquem) manifesta-se também no fato de ter respeitado o decreto do Concílio de Jerusalém, que fora designado justamente para controlar os “fortes” e salvaguardar a consciência dos “fracos”. Paulo buscava um ponto de equilíbrio a fim de que a obra de Cristo não sofresse nenhum dano.

I. UMA IGREJA HETEROGÊNEA (Rm 14.1-12)

1. A natureza da Igreja. O grande triunfo da igreja é ser chamada de Corpo de Cristo, ser alicerçada na sua ressurreição e, principalmente, fazer parte de uma unidade homogênea. Embora constituída por pessoas de grupos diferentes, ela una e indivisível, ela forma um só corpo, o Corpo de Cristo (1Co 12.27a); ela é chamada de “a universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hb 12.23a). Portanto, não há judeus e nem gentios, mas a Igreja de Jesus Cristo. Desta feita, os crentes judeus e gentios em Roma deveriam se conscientizar de que problemas de natureza local não poderiam sobrepor-se à universalidade da Igreja. Essa exortação é atemporal.

Ao iniciar o capítulo 14, Paulo dá-nos conta de que, na igreja do Senhor, existem os “enfermos na fé”, os “fracos”, ou seja, as pessoas se diferenciam na igreja não só pela função que tenham, mas, também, pelo seu nível de espiritualidade. Há pessoas que estão mais elevadas do que outras no seu relacionamento com Deus.

A vida espiritual exige o crescimento, o progresso do indivíduo e, como nem todos crescem de igual modo e na mesma velocidade na vida material, o mesmo se dá em relação ao relacionamento com Deus. Há, portanto, aqueles que crescem mais do que os outros espiritualmente, crescimento este que, ao contrário do crescimento na vida física, não está relacionado com o tempo, vez que se trata de um relacionamento com Deus, que está fora da dimensão temporal.

Paulo admite a existência destes diferentes níveis de espiritualidade, que são diferenças que nada têm que ver com a salvação, pois, lembremos, o crescimento é um fato que ocorre após o nascimento, ou seja, só cabe falar sobre diferentes níveis de crescimento depois que a pessoa nasceu, ou seja, o apóstolo está a falar de pessoas salvas, justificadas pela fé em Cristo. Tanto assim é que, em Romanos 14, em mais de uma oportunidade na sua argumentação, Paulo mostra claramente que tanto os “fracos” quanto os “fortes” são salvos e servem a Deus.

Portanto, a primeira nota do relacionamento entre os cristãos é a inclusão, ou seja, um comportamento que busca trazer a pessoa para o grupo, que procura integrar a pessoa, fazê-la se sentir participante e integrante da igreja local, ainda que ela apresente uma espiritualidade débil, fraca, ainda que seja um “menino em Cristo” ou alguém que “mesmo devendo já ser mestre pelo tempo, ainda necessite de que se torne a ensiná-lo quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus”. Lamentavelmente, o que se verifica, nos nossos dias, é que raramente se tem este comportamento inclusivista.

2. Os fracos na fé. Quem eram os crentes fracos? É consenso geral que os crentes chamados fracos eram oriundos das fileiras do judaísmo, os quais, embora tivessem depositado sua fé em Cristo, ainda viviam comprometidos com as regras judaicas concernentes à dieta (Rm 14.6,14,20) e aos dias religiosos (Rm 14.5). Não tinham plena compreensão de que esses ritos dietéticos e focados em calendários religiosos eram meras sombras do evangelho de Cristo, aos quais pela obra expiatória do Filho de Deus estavam desobrigados de cumprir. A deficiência de conhecimento os tornou crentes julgadores, carregados de muitos escrúpulos. Além de observar os ritos relacionados ao culto judaico, eles queriam que os gentios convertidos fizessem o mesmo. Situações semelhantes ocorreram com os crentes de Corinto (1Co 8.1-13), da região da Galácia e Colossos. Aos dois grupos de crentes de Roma – judeus e gentios -, Paulo recomendou que agissem com amor e respeito mútuo. Na recomendação de Paulo podemos ver três princípios fundamentais.

- O primeiro princípio é da tolerância. O que é tolerância? É qualidade de quem é tolerante. Mas o que é ser tolerante? É aquela pessoa que sabe respeitar as opiniões contrárias à sua; é aquela pessoa que sabe desculpar as falhas, ou fraquezas de seus semelhantes. Para nós tolerância tem o sentido de suportar, ter paciência, tolerar as falhas daqueles irmãos que, por diversas razões, ainda não chegaram a uma compreensão do que é a vida cristã e como ela deve ser vivida. Em sendo assim, e assim é, podemos resumir em uma única palavra a condição para que um crente seja tolerante: ser cheio do Espírito Santo.

Os cristãos podem ter comunhão mesmo sem concordar sobre questões não essenciais. É o que Paulo recomenda em Rm 14.1: “Ora, quanto ao que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas”. O irmão que desfruta plenamente a liberdade cristã crê, com base nos ensinamentos do Novo Testamento, que todos os alimentos são puros, pois são santificados pela Palavra de Deus e pela oração (1Tm 4.4,5). O irmão com consciência fraca pode ter receio de comer carne de porco ou qualquer outra carne. Pode ser vegetariano. É o que o apóstolo Paulo diz em Romanos 14.3: “Porque um crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes”.

- O segundo princípio é o da aceitação mútua. O cristão maduro não deve desprezar seu irmão mais fraco. O irmão mais fraco não deve considerar pecado quem come presunto, camarão, lagosta ou carne e porco. Deus o acolheu; portanto, ele é membro legítimo da família de Deus. É o que Paulo diz em Romanos 14.3: “O que come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu”. Aqui, Paulo mostra o ponto de equilíbrio – o respeito pelas convicções de cada um. Paulo não entra em juízo de valor, decidindo por um dos lados. Mas procura mostrar que acima de tudo a lei do amor fraternal deve imperar nesses casos. O que comia carne não deveria desprezar o que não comia e o que não comia carne também não deveria desprezar o que comia.

- O terceiro princípio é do acolhimento dos irmãos e não de julgamento – “Quem és tu que julgas o servo alheio? Para seu próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará firme, porque poderoso é Deus para o firmar” (Rm 14.4). De acordo com este princípio todo cristão nascido de novo é servo do Senhor, e não temos direito de julgá-lo como se fôssemos seus senhores. O crente precisa discernir o certo do errado; precisa distinguir entre os falsos profetas e aqueles que trazem o fiel ensino do Senhor. Contudo, Paulo condena a atitude de julgar um irmão, um servo de Cristo, por este ter uma opinião diferente acerca de assuntos secundários como dieta e calendário religioso. Nosso papel na igreja não é nos assentarmos na cadeira de juiz para julgar os irmãos, mas acolhê-los em amor.

Paulo mostra que o objetivo do acolhimento dos mais fracos é o fortalecimento na fé - “... porque poderoso é Deus para o firmar”. O problema é que uma acolhida sem a instrução trará como resultado final o mesmo que a rejeição: a destruição espiritual da pessoa, pois o povo de Deus é destruído quando lhe falta conhecimento (Oséias 4.6). Infelizmente, muitas igrejas locais, hoje em dia, até superam o obstáculo da rejeição, acolhendo afetuosamente os fracos na fé que chegam a elas, mas não completam o comportamento inclusivista, deixando de dar a devida instrução ao fraco, para que ele se fortaleça, e o resultado disto é a presença cada vez maior de crentes que, apesar do “tempo de casa”, não conseguem se desprender dos rudimentos doutrinários, precisamente o estado espiritual denunciado e reprovado pelo escritor aos hebreus (Hb 5.12-14).

3. Os fortes na fé. Quem eram os crentes fortes? Eram aqueles crentes, judeus ou gentios que, convertidos a Cristo, haviam compreendido com mais clareza a liberdade cristã, desvencilhando-se dessa forma dos escrúpulos dos rituais judaicos com respeito à dieta e ao calendário religioso. Os crentes fortes eram a maioria da igreja de Roma, e Paulo com eles se identificava (Rm 15.1). Embora Paulo deixe claro que acredita que a posição dos fortes está certa (Rm 14.14,20), estes não tinham o direito de desprezar os crentes fracos, mas deviam acolhê-los.

II. UMA IGREJA TOLERANTE (Rm 14.13-23)

1. A lei da liberdade. O crente não deve ser pedra de tropeço no caminho do irmão em Cristo. Devemos amá-lo como ele é. Não se deve fazer julgamento precipitado, fazendo juízo de valor sobre ele, acusando-o de estar em pecado, tomando como base nossas crenças e convicções. Deve-se respeitar a lei da liberdade em Cristo Jesus. Paulo diz “... que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus” (Rm 14.12). Em vez de julgarmos nossos irmãos em Cristo quanto a questões moralmente indiferentes, deveríamos tomar o propósito de jamais fazer algo que atrapalhe um irmão em seu progresso espiritual. Paulo é bem explícito sobre isso em Romanos 14.13: “Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes, seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão”. Aqui, Paulo mostra que em vez de ser um tropeço no caminho uns dos outros, gerando problemas na igreja e escândalos fora dela, os cristãos deveriam cuidar e amar uns aos outros.

Paulo sabia, como nós também sabemos, que não há mais alimentos cerimonialmente impuros como havia para os judeus que viviam debaixo da lei. Disse ele: “Eu sei e estou certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para aquele que a tem por imunda; para esse é imunda” (Rm 4.14). O alimento que ingerimos é santificado pela palavra de Deus e pela oração (1Tm 4.5). É santificado pela oração quando pedimos que Deus o abençoe para sua glória e o fortalecimento de nosso corpo a seu serviço. Se, porém, um irmão fraco na fé acredita que é errado consumir carne de porco, por exemplo, então é errado. Se ele comer carne de porco, estará agindo contrariamente à consciência que Deus lhe deu.

Observe, porém, com atenção o argumento: “... nenhuma coisa é de si mesma imunda...”. Devemos entender, aqui, que Paulo está se referindo apenas a essas questões indiferentes. Muitas coisas na vida são impuras, como revistas, sites e filmes pornográficos, piadas sujas e toda espécie de imoralidade. A Graça de Deus nos justificou, abolindo o domínio do pecado e fazendo-nos livres em Cristo. Mas, não devemos confundir liberdade em Cristo com libertinagem (antinomismo). A liberdade em Cristo deve ser tratada com responsabilidade. Foi o que o apóstolo Paulo disse aos em Gálatas: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne...” (Gl 5.13). Portanto, a declaração de Paulo deve ser entendida dentro do seu contexto. Os cristãos não se contaminam cerimonialmente ao ingerir alimentos declarados impuros pela lei de Moisés.

2. A lei do amor. Veja a expressão de Paulo em Romanos 14.15: “Mas, se por causa da comida se contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da tua comida aquele por quem Cristo morreu”. Aqui, Paulo está dizendo para os crentes que o amor fraternal, e não suas convicções dietéticas, deve ser o vetor de suas ações.

Quando um crente forte na fé faz uma refeição com um irmão mais fraco na fé, deve insistir em seu direito legítimo de comer carne de porco ou lagosta, mesmo sabendo que ele considera errado consumir esses alimentos? Se esse crente o fizer, não estará agindo segundo o amor, pois o amor pensa nos outros, e não em si mesmo. O amor abre mão do direito legítimo em benefício de um irmão. Um prato de comida não é tão importante quanto o bem-estar espiritual de alguém “por quem Cristo morreu”. Se, no entanto, o crente considera forte agir de forma egoísta, ele pode causar danos irreparáveis à vida do irmão considerado fraco na fé. Quando lembramos que a alma do nosso irmão foi comprada por um preço tão alto, isto é, o sangue precioso do Cordeiro de Deus, vemos que não vale a pena impor nossos direitos. Falando sobre a atitude do crente considerado forte em relação ao fraco. Se Cristo o amou a ponto de morrer por ele, por que não podemos amá-lo o suficiente para controlar-nos, evitando magoar a sua consciência? Se Cristo se sacrificou por seu bem-estar, que direito temos nós de prejudicá-lo? Se Cristo morreu para salvá-lo, não nos importa se vamos destruí-lo?

Entretanto, é bom ressaltar que, quando o crente, considerado fraco na fé, supervaloriza a dieta alimentar pensando que abster-se de certos alimentos o torna mais aceitável a Deus, comete um grande equívoco, uma vez que “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17). No reino de Deus, o que importa, de fato, não são as leis alimentares, mas as realidades espirituais. Viver um cristianismo legalista é inverter as prioridades, é colocar as coisas de ponta-cabeça, é deixar de buscar as primeiras coisas primeiro.

3. A lei da espiritualidade. Paulo conclui seu argumento mostrando o modelo de espiritualidade que deve conduzir tanto os crentes considerados fortes como os fracos na fé. Diz ele: “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14.22,23).

Aqui, Paulo distingue entre o crer e o agir, entre convicção pessoal e a conduta em público. O crente precisa ser consistente para não falar uma coisa e fazer outra, não manter uma convicção e agir na contramão dessa convicção. Se um crente fraco, prisioneiro de seus escrúpulos, come carne contra suas convicções para agradar os crentes fortes, nisso está pecando, porque essa conduta não procede de fé.

Para o irmão mais fraco, é errado comer o que sua consciência não aprova. No caso dele, o consumo desse alimento não provém da fé, sendo, portanto, contrário à sua consciência. Todo ato que viola a consciência é pecado. Como diz Paulo: “e tudo o que não é de fé é pecado”. Isto significa que tudo o que não é feito com convicção de que está de acordo com a vontade de Deus é pecaminoso, embora possa ser em si mesmo certo. Este ensino aplica-se não apenas a alimentos, mas a tudo. Se alguém estiver convencido de que algo é contrário à lei de Deus, e apesar disso a praticar, é culpado diante de Deus, embora a coisa em si seja lícita.

É bom desfrutar plenamente a liberdade cristã e viver sem escrúpulos infundados. Mas é melhor abrir mão de direitos legítimos que ter de condenar a si mesmo por escandalizar outros. Bem-aventurado é aquele que evita ser tropeço para outros (Rm 14.22).

III. UMA IGREJA ACOLHEDORA (Rm 15.1-13)

1. O exemplo dos cristãos maduros (Rm 15.1,2). Cristãos maduros são aqueles que são convictos de sua fé; nada o abala; nada o tira do Caminho; é resiliente (Rm 8.35,36). São exemplos daqueles considerados fracos na fé, ou seja, daqueles que não saíram ainda dos rudimentos da fé (Hb 6.1,2).

O crente maduro deve agradar aos irmãos na fé, e não a si mesmo (Rm 15.1,2) - “Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação”.

O cristão maduro, isto é, o cristão forte, por possuir uma fé mais substancial, deve servir de exemplo para aqueles que ainda não alcançaram esse nível de maturidade. Nunca deve ser egoísta, mas deve estar preocupado com o bem-estar da pessoa mais fraca que está ao seu lado na igreja. A atitude de agradar aos outros deve ser tomada com um objetivo em mente: encorajar e edificar o outro crente na fé.

Existe uma linha muito tênue em nosso caminho, e o mais forte não deve forçar o mais fraco a mudar de posição antes que este esteja pronto, nem deve servir de instrumento aos escrúpulos dos mais fracos permitindo que estes se tornem regulamentos da igreja. Ao invés disto, os crentes mais fortes devem ajudar os mais fracos na sua fé, e isso irá beneficiar a igreja como um todo. Como bem disse o pr. José Gonçalves, “o crente forte é responsável também pelo crescimento e amadurecimento do fraco, mostrando-lhe com amor o que significa ser livre em Cristo”.

2. O exemplo de Cristo (Rm 15.3). Paulo argumenta que se o próprio Cristo não agradou a si mesmo, então por que os crentes que se consideravam mais maduros na fé não poderiam agir da mesma forma? Cristo foi o ser “mais forte” que já viveu, mas Ele não agradou a si mesmo - “Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam”. Despojou-se de seus direitos e prerrogativas e veio para servir. Esvaziou-se e tornou-se servo. Submeteu-se à vontade do Pai e suportou toda sorte de sofrimento para salvar tanto os crentes fortes como os crentes fracos. Nenhum sacrifício que fazemos pode equiparar-se ao do Calvário. Portanto, nós que fomos chamados pelo seu nome, também devemos escolher agradar mais a Deus do que a nós mesmos.

3. O exemplo das Escrituras. “Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15.4).

Paulo adverte que as Escrituras Sagradas é o principal instrumento aferidor da nossa espiritualidade. Ele exorta os crentes, tantos os fortes como os fracos, dizendo que o ensino das Escrituras deve ter um efeito prático em nossa vida. As Escrituras registram histórias daqueles que agradaram e dos que não agradaram a Deus. Aqueles que erraram aprenderam com seus erros. Devemos suportar, como Cristo suportou, e ser encorajados com os exemplos de outros crentes. As biografias dos santos que venceram grandes obstáculos servem de exemplo daquilo que pode ser feito com a ajuda de Deus (cf Hb cap. 11). Isso nos dá esperança enquanto esperamos pacientemente pelas promessas de Deus. O conhecimento das Escrituras afeta nossas atitudes em relação ao presente e ao futuro. Quanto mais sabemos sobre o que Deus fez no passado, maior será a nossa confiança no que Ele fará nos dias futuros. Devemos ler diligentemente as Escrituras Sagradas para aumentarmos a nossa confiança naquilo que Deus considera ser o melhor para nós. Jesus foi contundente ao dizer: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5.39).

CONCLUSÃO

Na Igreja, naquela chamada por Jesus de “a minha Igreja”, o espírito de intolerância precisa ser banido. Sabemos, pela Bíblia, que o Senhor nosso Deus, nesta dispensação da Graça, colocou à disposição de seus filhos as condições necessárias para o viver a vida cristã. Assim, podemos afirmar, com segurança, que o segredo para o crente que deseja ser tolerante é o encher-se do Espírito Santo. Ninguém será tolerante, principalmente, sem o amor, sem a humildade, sem a paz, sem a mansidão, sem a longanimidade, para citar apenas alguns aspectos do Fruto do Espírito descrito em Gl 5.22. Enfim, o objetivo maior de todo crente deve ser o crescimento do Reino de Deus e a edificação da Igreja, por isso questões indiferentes e irrelevantes em matéria de salvação devem ser toleradas na igreja local e os “fortes” devem agir em relação aos “fracos” não com menosprezo ou orgulho, mas com “calorosa recepção”, entendendo que é necessário receber o “fraco” e instruí-lo para que ele, também, cresça e se torne um “forte” no futuro.

REFERÊNCIAS:

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sexta-feira, 3 de junho de 2016

Lição 10 – Deveres Civis, Morais E Espirituais

SUBSÍDIO PARA A ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL.

2º Trimestre/2016

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Romanos 13.1-8

TEXTO ÁUREO: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13.1).



INTRODUÇÃO

Nesta Aula, estudaremos o relacionamento do cristão como cidadão de dois mundos: terrestre e celeste. Teremos como texto base o capítulo 13 da Epístola aos Romanos. Em Romanos 12, o apóstolo Paulo abordou nosso relacionamento com Deus (Rm 12.1,2), com nós mesmos (Rm 12.3-8), com nossos irmãos (Rm 12.9-16) e com nossos inimigos (Rm 12.17-21). Agora, no capítulo 13, ele tratará de três aspectos importantes: o relacionamento com as autoridades (Rm 13.1-7), com a lei (Rm 13.8-10) e o comportamento do cristão diante da iminência da volta do Senhor Jesus (Rm 13.11-14). Após dar regras de como viver na igreja, o apóstolo agora explica no capítulo 13 de Romanos como os cristãos podem praticar o cristianismo no mundo secular, político e cotidiano. O cristão é um cidadão de dois mundos, de duas ordens, e Paulo parece dizer como disse Jesus: "Dai, pois, a César que é de César e a Deus o que é de Deus”' (Mt 22.21).

I. DEVERES CIVIS (Rm 13.1-7)

1. A natureza do Estado. (Rm 13.1): “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus”.

O Estado é o agente organizador da sociedade. Não haverá nação sem uma sociedade organizada política, jurídica e administrativamente, sobre uma base territorial definida. Todavia, para se processar uma organização social não se fará com simples distribuição de flores, de sorrisos, de conselhos, isto porque interesses terão que ser contrariados. Daí a necessidade do agente organizador, que, no caso de uma nação, é o Estado que necessita da força coercitiva necessária, e esta vem do poder. Não haverá o Estado sem que haja o poder. O Estado no uso do poder constitui o governo, e este é que vai gerir os interesses da sociedade.

Para preservar a boa ordem da sociedade é preciso haver autoridades e sujeição a estas autoridades. De outro modo, teríamos um Estado de anarquia, no qual ninguém sobrevive por muito tempo. Qualquer governo é melhor que a ausência total de autoridade. Assim, Deus instituiu o governo humano, e nenhum governo existe fora da vontade divina. Isso não significa que Deus concorda com todos os atos de governantes humanos. Por certo, Ele não aprova corrupção, injustiça, brutalidade e tirania. Ainda assim, não há autoridade que não proceda de Deus.

Com relação à autoridade constituída, Paulo destaca três aspectos importantes:

a) A autoridade procede de Deus. Disse o apóstolo Paulo: “... porque não há autoridade que não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Rm 13.1). Paulo não defende aqui nenhuma forma específica de governo, mas afirma que esse governo é uma instituição divina. É Deus quem levanta e depõe reis. É ele quem coloca no trono aqueles que governam e os tira do trono. Ele é quem governa o mundo e faz isso mediante as autoridades constituídas. Deus é Deus de ordem, e não de desordem. Ele instituiu o governo, e não a anarquia.

b) O compromisso de obedecer à autoridade – “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores...” (Rm 13.1a). Neste texto de Romanos 13:1, ao mencionar "autoridades superiores", Paulo está referindo-se ao Estado, com seus representantes oficiais. A atitude que devemos ter em relação às autoridades é sujeição. O apóstolo ainda afirma: “é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência“ (Rm 13.5).

A obediência à autoridade não tem o caráter de resignada submissão inspirada por temor ou medo. Sua obediência não se dá só por medo das consequências. Você obedece por questão de consciência, pois aceita que a autoridade vem de Deus e, quando obedece à autoridade, obedece a Deus. Paulo escreveu este capítulo 13 sobre a sujeição ao governo humano num período em que o infame Nero era imperador. Foram dias difíceis para os cristãos.

Os cristãos podem viver vitoriosamente numa democracia, numa monarquia constitucional e até mesmo sob um regime totalitário. Os governos humanos são apenas um reflexo dos homens que os constituem. Por isso, nenhum governo é perfeito. O único governo ideal e perfeito será o governo do Rei e Senhor Jesus Cristo, no Milênio.

c) A atitude de não resistir à autoridade (Rm 13.2) – “Por isso, quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação”. Paulo fala sobre uma resistência formal, planejada, proposital e sistemática. Aquele que se lança em batalha contra a autoridade legal, atrai sobre si castigo merecido. Essa sujeição, contudo, não implica obediência cega, tem limites. É simplesmente uma atitude de reconhecimento das pessoas que ocupam posição de comando numa sociedade juridicamente organizada.

A resistência que podemos ter não é ao princípio de autoridade, mas aos desmandos da autoridade. O cristão não tem a obrigação de obedecer às ordens do governo que o levem a pecar ou trair sua lealdade a Jesus Cristo (Atos 5.29). Nenhum governo tem o direito de dominar a consciência do individuo. Há ocasiões em que, ao obedecer a Deus, o cristão provocará a ira do homem. Nesses casos, deve estar preparado para arcar com as consequências sem se queixar. John Scott é enfático: "Se o Estado exige aquilo que Deus proíbe, ou então proíbe o que Deus ordena, então, como cristãos, nosso dever é claro: resistir, não sujeitar-nos, desobedecer ao Estado a fim de obedecer a Deus (1Rs 21.3; Dn 3.18; 6.12; Mc 12.17; At 4.19; 5.29; Hb 11.23). Contudo, em nenhuma circunstância, deve se rebelar contra o governo ou participar de complôs para derrubá-lo.

2. O propósito do Estado. (Rm 13.3,4): “Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela. Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal”.

Pelo texto supracitado, o Estado tem dois propósitos, ambos importantes, ambos fundamentais para o progresso e a paz da sociedade.

a) Promover o bem.  O ofício que Deus confiou ao Estado é o ofício que tem a ver com o bem e o mal. Paulo já disse que devemos detestar o mal e apegar-nos ao bem (Rm 12.9); que não devemos retribuir a ninguém mal por mal, mas fazer o bem perante todos os homens (Rm 12.17), e que não devemos deixar-nos vencer pelo mal, mas vencer o mal com o bem (Rm 12.21). Agora, ele descreve o papel que cabe ao Estado com respeito ao bem e ao mal. O papel do Estado é promover o bem e coibir o mal (Rm 13.4).

O objetivo do governo civil não é promover o bem-estar dos governantes, mas dos governados. Eles são ordenados e investidos de autoridade a fim de agir como pavor para os malfeitores e louvor para aqueles que fazem o bem. Se a autoridade é representante de Deus e se Deus é justo e bom, a autoridade precisa compatibilizar-se com o caráter de quem ela representa.

b) Castigar o que pratica o mal. Além de ser “ministro de Deus” para o nosso bem, o governante também serve a Deus aplicando castigo aos que transgridem a lei. Deus proíbe ao cristão aplicar vingança pessoal e ordena ao Estado fazê-lo (Rm 12.17,19). A autoridade deve ser austera no combate ao mal, pois liberdade sem restrição resulta em anarquia. O governo não pode ser complacente com a justiça, com o mal, com a anarquia, com as forças desintegradoras que tentam anarquizar a sociedade.

Cabe ao Estado o exercício da autoridade civil, a manutenção da ordem e a promoção do bem-estar público. Desta feita, o governo não pode agir com frouxidão no castigo do mal. Ele precisa punir exemplarmente os promotores do mal. Tem de reagir com rigor e firmeza contra toda forma de violência, crime, suborno e corrupção (Rm 13.4; Gn 9.6; Pv 17.11,15; 20.8,26; 24.24; 25.4,5).

3. A Igreja e o Estado (Rm 13.7). O fato de os cristãos serem cidadãos do Céu (Fp 3.20) não os exime das responsabilidades junto ao governo humano. Deve obediência ao Estado e obediência a Deus. Como cidadãos, as nossas obrigações principais para om o Estado são:

a) Políticas. Sendo um país governado por um regime democrático é dever de todo cidadão cumprir o seu papel, exercendo o direito de escolha de seus representantes e governantes. As obrigações legais impostas pela constituição de um país, desde que não sejam contrárias ou colidentes com a Bíblia Sagrada, que é a constituição do Reino de Deus, precisam e devem ser cumpridas. Biblicamente, a ideia de dividir a população da terra em povos e nações não foi do homem, mas, sim de Deus. Até onde sabemos não há qualquer veto bíblico ao processo de escolha de nossos governantes, inclusive pelo voto, e nenhuma proibição à prestação do serviço militar, muito menos de seguir a carreira militar.

b) Contributivas. Pagar impostos é um dever de todo o cidadão, e fazendo assim estamos obedecendo à orientação de Jesus: “Dai a César o que é de César...”(Lc 20.25). Exorta Paulo: “Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra” (Rm 13.7).

O apóstolo Paulo determina que o salvo, em primeiro lugar, como verdadeiro cidadão, leve em conta os seus deveres, cumprindo-os rigorosamente, a fim de que seja exemplo para os demais concidadãos, sejam eles crentes ou não. Começa pelo dever de pagamento de tributos, que, sem dúvida, é o que mais dói em cada cidadão, notadamente na época de Paulo, vez que era o ponto prioritário de todo o sistema de dominação do império de Roma. Lamentavelmente, são muitos os crentes, na atualidade, notadamente num país como o Brasil, que é o país de mais alta carga tributária do mundo, que tentam justificar, à luz da Bíblia, a sonegação de impostos, apelando, para tanto, para o altíssimo nível de corrupção do governo, para a evidente falta de aplicação dos recursos nas necessidades básicas da população. Tais argumentos, entretanto, se analisados à luz da Palavra de Deus, não têm qualquer efeito. Paulo é claríssimo: “por esta razão também pagais tributos, porque são ministro de Deus, atendendo sempre a isto mesmo. Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto” (Rm.13.6,7a).

O cumprimento de nossos deveres para com o Estado demonstra a qualidade de nossa vida cristã e engrandece o nome do Senhor Jesus e nos torna partícipes da manutenção da ordem publica e da promoção do bem comum.

II. DEVERES MORAIS (Rm 13.8-10)

1. A dívida que todos devem ter. “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor com que vos ameis uns aos outros; porque quem ama aos outros cumpriu a lei” (Rm 13.8). A primeira parte deste versículo significa, em essência: “paguem suas contas em dia”. Devemos livrar-nos de todas as dívidas, não negando, ignorando ou fugindo delas, mas pagando-as. Existe apenas uma dívida de que ninguém pode livrar-se, a dívida do amor. Orígenes, um dos personagens relevantes no início da igreja, dizia que “a dívida de amar é permanente e nunca a saldamos; por isso devemos pagá-la diariamente”.

A prática desenfreada de aquisição de bens tem sido uma das marcas de nossa era materialista. Isso tem trazido diversos problemas, inclusive para os servos de Deus, que não conseguem resistir a determinadas “promoções imperdíveis” oferecidas pelo comércio e adentram por endividamentos e financiamentos, sem mesmo avaliar se sua situação financeira comportará tais compromissos. Quando esquecemos de planejar nossas finanças e cedemos às pressões “urgentes”, para adquirir coisas supérfluas, corremos o risco de manchar o nome do Senhor e o nosso diante dos homens. O consumismo nos faz comprar coisa que não precisamos, com um dinheiro que não temos, para impressionar pessoas de que não gostamos. Isso é perigoso!

Aquele que cristão diz ser precisa ser disciplinado na administração das suas finanças a fim de honrar os seus compromissos. O ato de comprar parece simples e prazeroso, mas não é. Exige planejamento e reflexão. Jamais podemos comprar por impulso, sem pensar no quanto estamos gastando. Quem compra por impulso e não segue um planejamento, cedo ou tarde acabará tendo problemas financeiros. Devemos lembrar que honrar os nossos compromissos contratuais é um dever cristão e isto é bastante agradável a Deus, pois trará bom testemunho no meio em que vivemos. Você deseja ser bem sucedido financeiramente? Então:

a) Evite o desperdício e o supérfluo. É nossa tendência pensar que só entre os que têm muitos bens materiais há desperdício de recursos. A verdade, porém, é que entre a classe pobre há tantos ou mais pessoas que desperdiçam seus recursos de forma dissoluta. Na parábola de Jesus, aquele que menos tinha, foi quem não soube administrar sua porção. Na experiência diária vemos que crentes sem recursos, que vivem somente do seu ordenado, são muitas vezes aqueles que não sabem direcionar o seu dinheiro. Os pobres podem, nesse caso, ser tão esbanjadores como os ricos, levando-se em conta as devidas proporções. 

Em João 6:12 Jesus ordenou que seus discípulos recolhessem os alimentos que sobrara para que nada se perdessem. Algumas vezes o orçamento acaba porque gastamos com insensatez, com aquilo que não se deve ou não se pode gastar (Is 55.2; Lc 15.13,14).

b) Economize, poupe e fuja das dívidas. Se os membros das nossas igrejas fossem mais econômicos, seu dinheiro duraria mais. O mal de muitos é não saber direcionar o seu dinheiro, é não ter método no gastar. Se tiver muito, gastam tudo; quando não tem bastante, toma emprestado. Por isso a vida financeira de muitos evangélicos é uma pedra de tropeço diante dos incrédulos. Sejamos cuidadosos na maneira de gastar o nosso dinheiro, busquemos a direção do Senhor de nossas vidas, para que Ele nos ensine a usar o pouco que nos foi entregue. Economize comprando no estabelecimento que é mais em conta. Racionalize os gastos com água, luz, telefone, etc. (ler Gn 41.35,36; Pv 21.20). Abra uma conta-poupança e guarde um pouco de dinheiro, por menor que seja a quantia. Fuja das dívidas! 

2. O amor ao próximo é o cumprimento da lei – “... porque quem ama aos outros cumpriu a lei” (Rm 13.8b). O termo usado para “amor” neste versículo significa uma afeição profunda, abnegada e sobre-humana entre duas pessoas. Esse “amor” sobrenatural não é despertado por nenhuma virtude na pessoa amada; é um amor completamente imerecido. Distingue-se de todas as outras formas de amor, pois é oferecido não apenas às pessoas amáveis, mas também aos inimigos. Certa vez Jesus disse: “Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44). Jesus exige que cumpramos normas diametralmente opostas ao nosso comportamento natural. Essa ética estabelecida por Jesus só pode ser seguida por pessoas que nasceram de novo, que entregaram todo o seu ser ao Senhor: “Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei” (Hb 10.16). Um incrédulo não pode manifestar esse amor divino. Na verdade, até mesmo o cristão não é capaz de demonstrá-lo com forças próprias. Esse amor só pode ser expresso pelo poder do Espírito Santo que habita nos cristãos.

O apóstolo diz que quem ama o próximo tem cumprido a lei (Rm 13.8b), ou pelo menos a parte da lei que ensina a amar nosso semelhante. Em Romanos 13.9, o apóstolo Paulo destaca os mandamentos que proíbem atos de desamor contra o nosso próximo: “Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”.

Ao contrário da imoralidade, o amor não explora o corpo do outro. Ao contrário do homicídio, o amor não tira a vida do outro. Ao contrário do furto, o amor não se apropria dos bens do outro. Ao contrário da cobiça, o amor nem sequer cogita desejar indevidamente a propriedade alheia.

- “e, se há algum outro mandamento”. Paulo poderia ter mencionado outros dois mandamentos:“não dirás falso testemunho” e “honra teu pai e tua mãe”. Todos eles podem ser resumidos no mesmo preceito: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Trate o seu próximo com a mesma afeição, consideração e bondade com que você trata a si mesmo.

3. O amor não pratica o mal contra o próximo (Rm 13.10) – “O amor não faz mal ao próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”. O amor não procura fazer o mal contra o próximo. Antes, busca ativamente o bem-estar e a honra de todos. O amor é benigno, e não maligno. O amor é altruísta, e não egoísta. O amor coloca sempre o outro na frente do eu. O amor respeita a vida do outro, por isso quem ama não mata. O amor respeita a honra e a família do outro, por isso quem ama não adultera. O amor respeita os bens e a propriedade do outro, por isso quem ama não furta. O amor respeita o bom nome do outro, por isso quem ama não se presta ao falso testemunho. O amor não deseja o que é do outro; antes, está contente com o que Deus lhe deu, por isso quem ama não cobiça. Portanto, quem age com amor cumpre as exigências da segunda tábua da lei.

III. DEVERES ESPIRITUAIS (Rm 13.11-14).

Depois de falar da conduta cristã em relação ao Estado e ao próximo, Paulo estabelece um fundamento escatológico para essa conduta. Duas verdades são destacadas: o discernimento do tempo em que vivemos (Rm 13.11,12a) e o discernimento da conduta apropriada que devemos ter nesse tempo (Rm 13.12b -14).

1. Consciência escatológica. (Rm 13.11): “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé”.

Encabeçando a lista dos deveres de natureza espiritual, Paulo apresenta um de natureza escatológica: “E isto digo, conhecendo o tempo, que é já hora de despertarmos do sono; porque a nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé”. A volta de Jesus e a nossa plena salvação estão agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé. Desta feita, os crentes devem estar alerta e vigilantes para não serem surpreendidos. Paulo sabe que a antiga natureza pecadora ainda irá, ocasionalmente, provocar problemas, por isso o apóstolo pede que os destinatários da Epístola se mantenham acordados. Permanecer muito tempo num estado de letargia espiritual, onde o pecado é tolerado e as boas obras não são praticadas, pode levar a um coma espiritual que nos transforma em seres irresponsáveis perante Deus. Passou a hora de dormir. É hora de acordar e levantar-se. Escrevendo aos efésios, Paulo diz: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará” (Ef 5.14).

Cada dia que passa nos leva mais próximo ao instante da volta de Cristo, quando seremos conduzidos ao Céu para ficar ao seu lado para sempre. O tempo está se acabando, portanto, precisamos utilizar cada momento para vivermos uma vida correta diante de Deus e dos homens.

2. Discernimento da conduta apropriada que devemos ter nesse tempo em que vivemos. (Rm 13.12b-14): “Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz. Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências”.

Com relação a este aspecto exortativo do apóstolo Paulo, direcionado a todos os cristãos da igreja em Roma, bem como a todos os cristãos do tempo presente. Depois de explicar acerca do tempo, Paulo faz algumas exortações sobre como devemos viver nesse tempo. Paulo usa três imperativos nesta passagem: "deixemos", "revistamos" e "andemos". Estes três verbos governam o pensamento do apóstolo.

a) Deixemos as obras das trevas. "Deixemos, pois, as obras das trevas e revistamo-nos das armas da luz" (13.12b). Não basta estarmos acordados, precisamos despojar-nos das obras das trevas. Não é suficiente apenas tirarmos as vestes noturnas, precisamos vestir-nos das armas da luz. Um soldado não vive de pijamas, ele se atavia com roupas próprias para o combate. A vida cristã não é um spa espiritual, mas um campo de batalha.

b) Andemos como filhos da luz. "Andemos dignamente como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes" (Rm 13.13). Paulo passa da vestimenta adequada ao comportamento apropriado. Paulo lista aqui seis pecados, em três pares: trata da falta de controle nas áreas da bebida, do sexo e dos relacionamentos. A falta de controle próprio nas áreas de bebida, do sexo e dos relacionamentos sociais contradiz totalmente um comportamento cristão decente.

c) Revistamo-nos do Senhor Jesus. "Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências" (Rm 13.14). Em vez de viver premeditando como satisfazer os desejos da carne, o cristão deve revestir-se do Senhor Jesus Cristo, tornando-se semelhante a Ele. Todos os deveres cristãos estão incluídos no "revestir-se do Senhor Jesus", em ser como Ele, tendo aquela semelhança de temperamento e conduta resultante de estar intimamente unido a Ele pelo Espírito Santo. Essa união proíbe a tolerância para com toda inclinação pecaminosa. A salvação é do pecado e para a santidade. Devemos andar como Jesus andou, falar como Jesus falou, agir come Jesus agiu, sentir como Jesus sentiu. Jesus deve dominar-nos da cabeça aos pés!

É válido ressaltar que foram os textos de Romanos 13.13,14 que Deus usou para converter Agostinho a Cristo e à pureza. Quando Agostinho terminou de ler o versículo 14, entregou-se ao Senhor e, desde então, é conhecido historicamente como “santo” Agostinho.

CONCLUSÃO

As autoridades Eclesiásticas também são constituídas por Deus e precisam ser obedecidas. Existem crentes prontos a obedecer às autoridades civis e militares, porém, ignoram as eclesiásticas. A Bíblia Sagrada que manda obedecer às autoridades constituídas – “Sujeitai-vos, pois, a toda ordenança humana por amor do Senhor, quer ao rei, como superior, quer aos governadores, como por ele enviados para castigo dos malfeitores...” -, é a mesma Bíblia que também diz: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles...” (Hb 13.17). Não importa quem seja o Pastor da Igreja, nem suas qualidades intelectuais, ou aparência física. Se nós cremos na Bíblia, se cremos que nossa igreja é aquela que Jesus chamou de “a minha Igreja” (Mt 16.18), se cremos que é Jesus quem dá pastores para Sua Igreja e, se cremos que o pastor prestará contas de seu governo ao Senhor, então devemos fazer o que a Bíblia ordena, no sentido da obediência e sujeição. Amém?


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